terça-feira, 2 de agosto de 2011

Nas Nuvens



Venho acompanhando de perto os movimentos de mercado em torno do conceito da cloud computing, ou computação em nuvem, pois, como faço parte da indústria de TIC, este tema me afeta diretamente.  Apesar de todo o barulho em torno deste tópico, configurando-se como tendência em tecnologia da informação, já vivi casos no passado que eram tipicamente serviços da nuvem, como a infraestrutura computacional sob demanda, ou IaaS: na minha época de graduação em engenharia elétrica, não havia poder computacional nos laboratórios de pesquisa para realizar simulações numéricas em sistemas de energia, caracterizados por matrizes de elevada dimensão (proporcional ao número de barras do sistema, se pensarmos no SIN, algo em torno de 10.000) e por serem esparsas (grande número de elementos com valor zero). Assim, os algoritmos eram executados numa alocação de um supercomputador Cray, localizado remotamente em alguma instituição de pesquisa, usando-se a precursora da Internet (a rede de pesquisa Bitnet). Aliás, pela Bitnet tive contato inicial com as tecnologias de comunicação atuais, como o e-mail e o chat (naturalmente em linha de comando). É claro que a IaaS da época não era tão transparente e “elástica” como o é hoje, dada a evolução nas tecnologias atuais. Mas serve de referência para meu entendimento sobre o assunto.

A primeira coisa que me chama atenção neste conceito é a enorme dependência das redes de dados para a coisa funcionar bem. Tive a oportunidade de acompanhar as demonstrações de aplicações móveis em Android do Google que utilizam cloud e a primeira coisa que me irritou foram as falhas nos aplicativos por conta da ausência de sinal, tanto 3G quanto wi-fi. Se pensarmos na infraestrutura deficitária de banda larga em nosso país, principalmente aquelas relacionadas à mobilidade, não acredito que isto irá tornar a computação em nuvem um fracasso, mas poderão frear uma adoção massiva deste conceito, principalmente em aplicações móveis nos smartphones e tablets, que é uma segunda tendência em TIC. Quiçá possa se confirmar os alardeados investimentos em redes que ora se anunciam em razão dos grandes eventos; eles serão fundamentais para o Brasil acompanhar a adoção a tendência da computação em nuvem em pé de igualdade com mundo desenvolvido.
Porém, a segunda coisa que mais me chama a atenção é a possibilidade, no caso das nuvens públicas, da computação se transformar numa utility, como água encanada ou energia elétrica, com todas as peculiaridades deste segmento. O primeiro deles, da possibilidade de se tornar um mercado em monopólio ou oligopólio. Outra, da possibilidade de se tornar um mercado a ser regulado pelo governo, com estabelecimento de licenças de uso, tarifas, reajustes e outras coisas típicas, o que possa causar certa insegurança, que leve muitos investidores a aguardarem uma maior consolidação do conceito, pelos riscos jurídicos envolvidos sempre que o governo “mete o bedelho”.  Contudo, talvez a maior semelhança seja a necessidade de escala para se ganhar (muito) dinheiro neste negócio, com uma diferença para as utilities tradicionais: enquanto estas são regionalizadas, muitas vezes por razões tecnológicas ou limitações logísticas, um provedor de serviços na nuvem pode oferecer escala global com a maior facilidade. E neste aspecto, vejo duas empresas liderando tal posição: A Amazon (por conta do AWS) e o Google (por conta do Google App Engine). A meu ver, são estas as empresas que faturarão os tão sonhados “maiores pedaços do bolo” deste mercado.
Ou, quem sabe, aconteça como no mercado de energia, que, por motivos de sustentabilidade e das smart grids, preconiza a possibilidade de geração própria nas residências, com o consumidor podendo se tornar fornecedor. Quem sabe, numa próxima sacada, eu não possa ganhar uns “trocados”, disponibilizando a ociosidade dos meus computadores para alguma aplicação de negócios, semelhante ao SETI@home, mas de forma transparente?

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