quarta-feira, 2 de maio de 2012

Combate a Incêndio

No último sábado, dia 28/04, tive a oportunidade de participar de um adestramento prático de combate a incêndio. Este adestramento tinha por objetivo testar a validar a estrutura de treinamento prático montado num sítio em Três Riachos, Biguaçu. A estrutura é um empreendimento de ex-militares da Marinha com foco no provimento de um local para treinamento prático de brigadistas de incêndio, tanto em instituições privadas quanto públicas. Embora possui os aparatos para treinamento em diferentes cenários de incêndio, é especializado em combate a incêndios em embarcações, uma vez que fora montado visando principalmente o atendimento das futuras instalações de um estaleiro da EBX em Biguaçu, o que infelizmente não logrou êxito. Porém, pode atender demandas semelhantes a estas ou outras.
Todos os participantes já possuiam experiência neste tipo de exercício ou são instrutores no assunto. Inclusive um dos participantes já combateu um incêndio real ocorrido a bordo do navio tanque Almirante Gastão Motta da Marinha do Brasil. Eu era o único marinheiro de primeira viagem...
Basicamente, os cenários do treinamento envolveram fogo classe B, que é a situação onde o material combustível são líquidos inflamáveis, como óleo diesel e gasolina. O primeiro cenário é num local conhecido no jargão de Marinha como "Maracanã", que simula um tanque de óleo, conforme a figura abaixo:







O segundo cenário envolveu incêndio em praça de máquinas, que é o local em uma embarcação onde se encontram os motores e sistemas auxiliares, tendo por principal característica o fato de ser um ambiente fechado:


Para extinção de incêndio classe B, deve-se empregar espuma, que no entanto não deve ser aplicada diretamente ao fogo, sob pena de espalhá-lo. A aplicação deve ser realizada em um anteparo (observe o anteparo existente no Maracanã), de forma que a espuma vai cobrindo a superfície e diminuindo a quantidade de oxigênio disponível, o que "quebra" uma das arestas do triângulo do fogo:


Esta classe de fogo também pode ser extinto com água. Entretanto, não se deve direcionar um jato d'água sobre o fogo, sob pena de espalhá-lo ainda mais. Assim, a técnica consiste em usar "neblina" para diminuir a temperatura e a disponibilidade de oxigênio:


Observe na figura acima que são utilizadas duas linhas de combate (chamadas de Alfa e Bravo), cada uma com uma equipe de 3 homens. O primeiro é responsável por levar e desenrolar a mangueira, bem como conduzir a aplicação do esguicho. O segundo homem é responsável por levar o esguicho, conectá-lo à mangueira e ajudar na condução da mangueira. Fui escalado para ser o segundo homem da linha Alfa, como pode ser visto na figura acima. O terceiro homem conecta a mangueira no flange em Y (conforme figura abaixo), abrindo e fechando o registro e também apóia na condução da mangueira, principalmente evitando a formação de cocas (dobras). É possível que muitos combates utilizem apenas uma linha. É possível também o emprego de apenas dois homens por linha. Note também a presença de um homem entre as linhas. Ele é o líder, avalia a situação (dá o alarme de incêndio, orienta as equipes, atesta a extinção, dentre outros) e dá as ordens. A pessoa com o capacete amarelo é o instrutor do adestramento. Ele é o melhor equipado, pois se der "onça" (onça no jargão de marinha equivale a zebra, erro, m...), ele  é quem "safa" a "onça" (safar no jargão de Marinha é resolver. Sujeito safo é sujeito pró-ativo, capaz, etc.).






Ainda na figura acima, estou "descomprimindo" (esvaziando) a mangueira da minha linha, girando o esguicho, após extinção do fogo na praça de máquinas. Observe ao fundo o terceiro homem fechando o registro do flange Y. Este acessório divide uma mangueira de 2,5 pol em duas linhas de 1,5 pol, contendo um registro de abre ou fecha o fornecimento de água para estas derivações. Jamais se utiliza uma seção de 2,5 pol para uma linha, pois a mesma é de difícil condução. Sempre a de 1,5.


Quando o fogo é na praça de máquinas, como visto acima, inicialmente se deve fechar os compartimentos (portas), a fim de diminuir a disponibilidade de oxigênio, bem como aplicar água externamente, a fim de resfriá-la, como visto abaixo:





Antes das linhas "invadirem" a praça para extinguir o fogo, o líder deve avaliar a existência do efeito "panela de pressão", ordenando a descompressão da sala (abertura de escotilhas), com o objetivo de equalizar a pressão interna e externa.


Observe na figura acima que o líder se posiciona atrás da porta para abri-la, pois se ele o fizer se posicionando a frente, pode ser jogado violentamente para trás pela expansão dos gases (isto já ocorreu em situações reais).



Acima, observe que os homens devem entrar o mais agachado possível, pois o oxigênio disponível para respiração está embaixo. O segundo homem também deve adentrar a praça de máquinas.
Na foto abaixo tive de assumir a posição do primeiro da linha. Isto é treinado a fim de que o segundo homem possa tomar esta posição caso o primeiro esteja impossibilitado (cansaço, intoxicação, ...).Neste caso, deve-se "varrer o chão" com a neblina d'água, quando se adentra a praça de máquinas.





Enfim, foi uma experiência inesquecível participar deste exercício. Observei a importância de alguns conceitos importantes de fenômenos dos transportes, uma vez que a pressão da bomba d'água, aliado com a queda e com o circuito hidráulico, são itens muito importantes para prover a vazão necessária na mangueira, caso contrário haverá a formação de cocas que dificultam o trabalho de extinção. Também aprendi que esta ação, embora muitas vezes permeadas de heroismo no imaginário das pessoas, faz-se com pura técnica, que empregada corretamente, extingue o fogo rapidamente, mitigando uma catástrofe. Outro fato interessante é a importância deste tipo de treinamento para trabalhadores que operam ou dão manutenção a geradores elétricos a base de óleo diesel ou outro combustível líquido.

Gostaria aqui de agradecer imensamente o convite feito pelo Sgt EL (Ref.) da Marinha Osman do Rosário, meu pai, que além de ser um dos instrutores e operar a bomba, é coordenador do curso de formação de profissional marítimo da Capitania dos Portos de Santa Catarina e autor das fotos exibidas neste post.


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