segunda-feira, 26 de março de 2012

Por que as coisas não mudam?

A partir de hoje mudarei um pouco a temática deste blog para também opinar sobre temas de relevância geral.

A bola da vez dos noticiários é a propina em compras públicas. Ontem, no Fantástico, foi a vez do projeto de Internet gratuita de João Pessoa, a "Jampa Digital". Fiquei me perguntando: por que essas coisas não são o estopim para uma revolta popular, para protestos, para uma luta por mudanças reais? Por que após estas denúncias a população não vai às ruas do nosso Brasil no dia seguinte? Será que tais notícias são tão constantemente veiculadas que se banalizaram, a ponto de se tornar "normal"? Ou por que só vale a pena protestar quando aumenta a passagem do transporte público?
Acho que a culpa é nossa. Isso é um espelho de nós, brasileiros, refletindo a cultura nefasta que se implantou aqui desde o descobrimento. Lembram quando ocorreu o escândalo das aposentadorias precoces na Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina? Será que o negócio foi solucionado? Ou evaporou, assim como o mensalão? A verdade é que, a despeito de uma breve indignação na frente das TVs, nossa cultura não se comove mais com este tipo de escândalo. Pelo contrário: no imaginário dos brasileiros, eles gostariam de estar no lugar daqueles que se aposentaram.
Vejam o caso dos concursos públicos. Cada vez mais brasileiros e brasileiros, como que tomados por uma enorme fome do saber, afundam-se a estudar com vistas a tão sonhada estabilidade, quero dizer, com a tão sonhada carreira pública. Esses dias, caminhando no parque de Coqueiros, vi um grupo que, entre corridas e tentativas de barras, exibiam orgulhosamente uma camiseta em que se via escrito "preparação física para concurso de agente de polícia federal". É o governo em suas diferentes esferas promovendo a educação e a saúde da população a partir dos concursos públicos!
Fiquei com uma desconfiança: tirando a grande massa despreparada que inevitavelmente fica para trás, será que aqueles que passam levam jeito mesmo para "servir o público" (caso contrário, não seria chamado de servidor público) ou só estão fazendo uso de sua vantagem intelectual momentânea? Infelizmente, esta não parece ser a realidade. Se fosse assim, não leríamos coisas como o que li num certo órgão: "desacatar o servidor público é crime". Será que é desacato ou desespero, por não ter a quem recorrer pela péssima qualidade dos serviços públicos? O sonho da estabilidade cria no brasileiro a sensação de segurança que o mesmo precisa para financiar seus sonhos de classe média: o apartamento novo, o carrão "completaço", a viagem para Europa e para Disney, o novo Apple iPhone... Além do que, o setor público parece que está pagando melhor que a iniciativa privada, criando artificialmente uma nova elite, às custas de todos nós contribuintes (tirando os impostos embutidos, já fizeram a sua declaração de imposto de renda?). Isto é ruim, pois desequilibra as referências de salário, levando ao aumento de salários do setor privado ou à falta de atratividade do setor produtivo. Vejam o que está acontecendo ultimamente: os custos de mão de obra no Brasil já são mais altos que nos Estados Unidos, apesar do índice de desemprego ser o contrário. E olha que os "americanu" tem que ser bem remunerados, para sustentar o American way of life, por isso a crise toda que está por lá.
E será que o Estado tem esta capacidade toda de absorção de pessoal? Exaurindo estes recursos humanos, principalmente os melhores, do setor produtivo, parece que vai faltar PF e PJ para pagar esta conta em tributos. Pior: o aumento de pessoal só colabora para a ineficiência do setor público, uma vez que mais pessoas fazendo o serviço não significam necessariamente que este será melhor, mais rápido ou mais eficiente (ou, dito de outra maneira: duas grávidas não vão encurtar o prazo de gestação).
Uma das prioridades de Estado deveria ser justamente criar as melhores condições para o desenvolvimento do setor produtivo, principalmente uma melhor segurança para o setor, pois este por si só já é cerceado de grandes riscos. Ainda mais no Brasil. A grande maioria da população só enxerga nos grandes lucros do setor privado apenas a ganância do nosso empresariado. Para mim, por exemplo, os altos preços dos automóveis no Brasil se dão mais pelas grandes margens de lucro do que pelos impostos incidentes neste produto. Por isso, pode até ser ganância, mas já tentou viabilizar um negócio por aqui? Será que não estamos viabilizando artificialmente uma "indústria automobilística nacional", ao invés de importá-los de outros países a um custo mais baixo? Ah, mais a indústria local gera empregos por aqui. Então, diante deste fato, lembre-se da grande massa de metalúrgicos deste segmento que sustenta os sindicatos, que por sua vez sustenta certos partidos. É engraçado o que acontece no nosso país. Conheço muitos empresários ou postulantes a tal que viabilizam negócios ou estão dispostos a correrem riscos no setor privado, pois podem voltar a qualquer momento para os "braços do Estado" se as coisas não vão bem ou dão errado, uma vez que são funcionários públicos, alguns licenciados, outros não. Isto é o que eu chamo de Gerenciamento de Riscos à brasileira!
Não estou querendo aqui criticar o servidor público ou o pretendente a esta nobre ocupação de que tanto depende nossa nação. Contudo, espero que aqueles que se proponham a isto o façam com amor e devoção, não olhando apenas para o bônus da investidura pública, mas também para o ônus desta, como ser submetido a chefe que só chegou lá porque o cargo é comissionado; ter os poderes mas não ter os meios nem os recursos para executá-los,  pois quem manda e define o orçamento não é de carreira; ver as práticas patrimonialistas, fisiologistas e o nepotismo parasitar as repartições públicas e no fim testemunhar muitos bons funcionários públicos chafurdarem nos vícios, nos problemas familiares, pessoais e toda a sorte de desvios sociais, por passarem por tudo isso e muito mais o que a carreira pública no Brasil nos proporciona.


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