Todos os participantes já possuiam experiência neste tipo de exercício ou são instrutores no assunto. Inclusive um dos participantes já combateu um incêndio real ocorrido a bordo do navio tanque Almirante Gastão Motta da Marinha do Brasil. Eu era o único marinheiro de primeira viagem...
Basicamente, os cenários do treinamento envolveram fogo classe B, que é a situação onde o material combustível são líquidos inflamáveis, como óleo diesel e gasolina. O primeiro cenário é num local conhecido no jargão de Marinha como "Maracanã", que simula um tanque de óleo, conforme a figura abaixo:
O segundo cenário envolveu incêndio em praça de máquinas, que é o local em uma embarcação onde se encontram os motores e sistemas auxiliares, tendo por principal característica o fato de ser um ambiente fechado:
Para extinção de incêndio classe B, deve-se empregar espuma, que no entanto não deve ser aplicada diretamente ao fogo, sob pena de espalhá-lo. A aplicação deve ser realizada em um anteparo (observe o anteparo existente no Maracanã), de forma que a espuma vai cobrindo a superfície e diminuindo a quantidade de oxigênio disponível, o que "quebra" uma das arestas do triângulo do fogo:
Esta classe de fogo também pode ser extinto com água. Entretanto, não se deve direcionar um jato d'água sobre o fogo, sob pena de espalhá-lo ainda mais. Assim, a técnica consiste em usar "neblina" para diminuir a temperatura e a disponibilidade de oxigênio:
Observe na figura acima que são utilizadas duas linhas de combate (chamadas de Alfa e Bravo), cada uma com uma equipe de 3 homens. O primeiro é responsável por levar e desenrolar a mangueira, bem como conduzir a aplicação do esguicho. O segundo homem é responsável por levar o esguicho, conectá-lo à mangueira e ajudar na condução da mangueira. Fui escalado para ser o segundo homem da linha Alfa, como pode ser visto na figura acima. O terceiro homem conecta a mangueira no flange em Y (conforme figura abaixo), abrindo e fechando o registro e também apóia na condução da mangueira, principalmente evitando a formação de cocas (dobras). É possível que muitos combates utilizem apenas uma linha. É possível também o emprego de apenas dois homens por linha. Note também a presença de um homem entre as linhas. Ele é o líder, avalia a situação (dá o alarme de incêndio, orienta as equipes, atesta a extinção, dentre outros) e dá as ordens. A pessoa com o capacete amarelo é o instrutor do adestramento. Ele é o melhor equipado, pois se der "onça" (onça no jargão de marinha equivale a zebra, erro, m...), ele é quem "safa" a "onça" (safar no jargão de Marinha é resolver. Sujeito safo é sujeito pró-ativo, capaz, etc.).
Ainda na figura acima, estou "descomprimindo" (esvaziando) a mangueira da minha linha, girando o esguicho, após extinção do fogo na praça de máquinas. Observe ao fundo o terceiro homem fechando o registro do flange Y. Este acessório divide uma mangueira de 2,5 pol em duas linhas de 1,5 pol, contendo um registro de abre ou fecha o fornecimento de água para estas derivações. Jamais se utiliza uma seção de 2,5 pol para uma linha, pois a mesma é de difícil condução. Sempre a de 1,5.
Quando o fogo é na praça de máquinas, como visto acima, inicialmente se deve fechar os compartimentos (portas), a fim de diminuir a disponibilidade de oxigênio, bem como aplicar água externamente, a fim de resfriá-la, como visto abaixo:
Antes das linhas "invadirem" a praça para extinguir o fogo, o líder deve avaliar a existência do efeito "panela de pressão", ordenando a descompressão da sala (abertura de escotilhas), com o objetivo de equalizar a pressão interna e externa.
Observe na figura acima que o líder se posiciona atrás da porta para abri-la, pois se ele o fizer se posicionando a frente, pode ser jogado violentamente para trás pela expansão dos gases (isto já ocorreu em situações reais).
Acima, observe que os homens devem entrar o mais agachado possível, pois o oxigênio disponível para respiração está embaixo. O segundo homem também deve adentrar a praça de máquinas.
Na foto abaixo tive de assumir a posição do primeiro da linha. Isto é treinado a fim de que o segundo homem possa tomar esta posição caso o primeiro esteja impossibilitado (cansaço, intoxicação, ...).Neste caso, deve-se "varrer o chão" com a neblina d'água, quando se adentra a praça de máquinas.
Gostaria aqui de agradecer imensamente o convite feito pelo Sgt EL (Ref.) da Marinha Osman do Rosário, meu pai, que além de ser um dos instrutores e operar a bomba, é coordenador do curso de formação de profissional marítimo da Capitania dos Portos de Santa Catarina e autor das fotos exibidas neste post.
Ótimo post sobre combate a incendio
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